Crónicas de uma leitora | The Hate U Give
Um dos melhores livros que li em 2017 foi, sem dúvida alguma, o The Hate U Give, em português "O Ódio que Semeias". E tinha de falar um bocadinho dele no blog.
Adorei cada minuto que passei ao ler este livro. Se eu demorei dois dias a ler este livro foi muito. Devorei cada frase e cada palavra como se a minha vida dependesse disso. Sabem aqueles livros que são tão bons, que precisamos de convencer toda a gente a ler também? Este é um desses exemplos.
É o livro de estreia da escritora Angie Thomas e enganam-se as pessoas que acham que este livro é o cliché romance-drama adolescente. Também se enganam as pessoas que acham que vão verter uma lágrima com este livro (não são só os livros que nos fazem chorar que são bons). E este não nos faz chorar, mas faz-nos pensar... e muito! É baseado no movimento "Black Lives Matter", que denuncia a violência policial contra os jovens de origem negra dos EUA.
"The Hate U Give" fez-me perceber como eu não fazia ideia sobre o dia-a-dia das pessoas que são vítimas do racismo sistemático nos Estados Unidos. Uma realidade que me passava completamente ao lado. Pessoas inocentes são vítimas deste sistema todos os dias. Um miúdo é baleado horas antes de acabar o secundário porque ele estava com uma caneta na mão, uma rapariga entra num carro e três dias depois é morta na cadeia, uma criança de cinco anos vê a mãe ser morta e as histórias continuam. É uma realidade em que a justiça não entra e os polícias matarem jovens negros sem qualquer tipo de punição é normal. But guess what? Isso não é normal!!
Deixem-me dizer que eu realmente não sei o que é ser uma jovem negra nos EUA, mas tenho 20 e poucos anos de vida e consigo perceber que estar nas minorias é como estar preso atrás de uma parede de vidro e sempre que vemos uma injustiça a acontecer, podemos até gritar, mas ninguém realmente nos vê ou nos ouve. Nós estamos nos século XXI. Os EUA já elegeram um presidente negro, a humanidade precisa de arranjar uma maneira de mandar dar uma volta ao "racismo". Mas a verdade, é que ele realmente existe. E ninguém devia debater sobre se as pessoas de origem negra deviam ou não ter direitos humanos básicos. E ninguém devia ser o porta-voz de um grupo inteiro. E ninguém devia ter que defender a sua humanidade em cada passo que dá, repetidamente e constantemente.
E se algum de vocês leram este livro ou qualquer um que aborde o racismo e escolheram ignorar a mensagem só porque se ofenderam com alguns termos usados pelos personagens, eu acho que vocês falharam na interpretação do ponto principal da história. Porque, provavelmente, vocês nunca vão ter de se preocupar que um polícia vos veja como uma ameaça por causa da vossa cor de pele.
Para terminar, quero apenas referir que é um livro sobre racismo sim, mas também sobre família, amizade, lealdade e como é frequente uma comunidade inteira unir-se para salvar alguém. Obrigada por esta preciosidade, Angie Thomas!
A frase que retiro deste livro: "A hairbrush is not a gun". Se vocês lerem, vão perceber o porquê.
Convencidos?